22% dos pobres brasileiros guardam 1/3 da vegetação do Brasil

Um trabalho divulgado em meados de novembro analisou como o Brasil pode se beneficiar de um tipo específico dessas soluções, focado na adaptação às mudanças climáticas.

O trabalho de pesquisadores do Rio de Janeiro identificou municípios prioritários para o desenvolvimento de políticas preventivas e estratégias na chamada “adaptação baseada em ecossistemas”, em que a natureza é usada para evitar os piores efeitos do aquecimento global.

O foco do trabalho foi o risco de aumento da seca, em especial no Nordeste, na Amazônia e na região de Cerrado conhecida como Matopiba (que engloba Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

Eles partiram do princípio de que as populações mais pobres são e serão as mais vulneráveis à mudança do clima, e que a conservação e uso sustentável da biodiversidade e dos ecossistemas são maneiras de proteger contra as mudanças climáticas.

A análise cruzou, então, os municípios mais pobres do País com o mapa de cobertura vegetal e de grau de exposição (vulnerabilidade) ao aumento de seca por causa das mudanças climáticas. Descobriu 398 municípios prioritários para receber ações com esse foco em proteger a natureza de modo a prepará-los para um mundo mais quente e mais seco.

Os pesquisadores observaram que 22% dos pobres brasileiros (com renda familiar inferior a R$140 por mês) vivem nesses 398 municípios, que por sua vez guardam mais de 1/3 dos remanescentes de vegetações nativas do Brasil.

“Se formos pensar como tornar esses três blocos menos vulneráveis à seca, vamos precisar dessa natureza em pé e criar formas de reduzir a pobreza nesses municípios sem derrubar essa floresta, com planejamento de desenvolvimento sustentável, mecanismos de incentivo, como bolsa verde. Do contrário eles vão ficar ainda mais vulneráveis”, explica Fabio Scarano, professor da Universidade Federal do Rio e diretor executivo da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável.

“Se mesmo com a natureza presente esses municípios já são sensíveis, com a supressão da natureza para supostamente gerar renda, como foi praxe historicamente no Brasil, a situação dos serviços prestados pela floresta, como a oferta de água, vai ficar mais crônica. E ainda não vai resolver o problema da pobreza.”