Brasil foi um dos 10 países com aumento de casos de sarampo entre 2017 e 2018

Unicef revela que país teve 10.262 casos da doença no ano passado; último registro de sarampo no Brasil tinha ocorrido em 2015; agência alerta sobre ameaça crescente do aumento global do sarampo para as crianças.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, fez um alerta nesta quinta-feira. De acordo com a agência, casos de sarampo estão surgindo no mundo em níveis alarmantes.

Dez países, incluindo o Brasil, a Venezuela, as Filipinas e o Iêmen são responsáveis por 74% do total do aumento de casos da doença. No mundo, 98 países relataram um crescimento na incidência de sarampo em 2018 em comparação com 2017. A situação afetou o progresso no combate à doença altamente evitável.

Preocupação

Em entrevista à ONU News de Brasília, a chefe de Saúde e HIV do Unicef no Brasil, Cristina Albuquerque, falou sobre a preocupação da agência com os dados.

“Primeiro, que o sarampo é uma doença grave que pode matar e pode deixar sequelas. Segundo, que a vacina contra o sarampo, disponível de forma gratuita, particularmente no Brasil em ampla escala, elas são gratuitas. Então, mais um motivo de preocupação quando estes dados são divulgados a nível global, envolvendo inclusive a situação brasileira, e que entre estes países, nestes top 10, digamos assim, você tem países de renda alta e desenvolvidos como a França. É uma questão bem complexa que deve ser olhada, tratada, e discutida no âmbito de cada país.”

O sarampo tem complicações e por isso mesmo essas crianças são vulneráveis e em hipótese, em momento nenhum, pode se considerar o sarampo uma doença qualquer.

Segundo a representante, vários fatores têm tido influência no aumento de casos e ainda é preciso realizar mais estudos sobre os determinantes econômicos, sociais e culturais que podem ter tipo impacto nesta queda das culturas vacinais em geral.

Nova Iorque

De acordo com a agência, infraestrutura de saúde precária, conflitos civis, a baixa conscientização da comunidade, a complacência e a hesitação em relação à vacina em alguns casos estão entre as causas que levaram a esses surtos em países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o número de casos de sarampo aumentou seis vezes entre 2017 e 2018, chegando a 791 casos. Mais recentemente, os EUA viram o aparecimento da doença em Nova Iorque e no estado de Washington.

Nas Filipinas, somente este ano, foram registradas 12,736 incidências da doença e 203 mortes em comparação com 15.599 casos totais em 2018.

Brasil

O Brasil, aparece no topo da lista de 10 países que não tinha tido nenhuma incidência em 2017 e viram o ressurgimento do sarampo em 2018. No país, ocorreram 10.262 casos, sendo que a última vez que a doença havia sido registrada no Brasil tinha sido em 2015.

Timor-Leste aparece em quinto lugar com 59 casos, o Peru em sexto lugar com 38, seguindo pelo Chile com 23.

Cristina Albuquerque explicou que no Brasil foi observada uma queda na cobertura de vacinas.

“Em 2015, no Brasil, nós tínhamos muito boas coberturas vacinais, inclusive para sarampo, que chegava a 96%. São dados oficiais do Governo brasileiro, do Programa Nacional de Imunização. Esse dado ele dava uma segurança em termos de saúde pública de uma proteção da população brasileira, particularmente, nós falamos das crianças. Ao longo dos últimos anos, depois de 2015, essa cobertura foi baixando, até que em 2017, fechamos o ano com uma cobertura de apenas 85.2% no território brasileiro, isso dado nacional.”

Segundo a especialista, a queda na cobertura no Brasil não foi apenas na vacinação contra o sarampo, mas, na maioria das vacinas, com exceção da BCG 0, que é dada ainda na maternidade nos hospitais.

Alerta

Por outro lado, ela destaca que uma boa notícia é que a campanha no ano passado foi exitosa e a cobertura da vacinação contra o sarampo no país foi de quase 98%, o que representou um grande avanço. Mas, a especialista também aponta que quando se analisa apenas a faixa etária de crianças com um ano, a meta que era de 95% não foi atingida.

A representante acrescenta que dados divulgados no dia 14 de fevereiro informam que a transmissão de sarampo atualmente no Brasil só está ativa nos estados do Amazonas, do Pará e de Roraima. Os demais estados que apresentaram surtos ou casos de sarampo em 2018 já teriam declarado encerrado o surto.

O Unicef alerta que o sarampo é altamente contagioso, mais do que o ebola, a tuberculose ou a gripe. O vírus pode ser contraído por alguém até duas horas depois de uma pessoa infetada ter saído de uma sala.

O vírus se espalha pelo ar e infecta as vias respiratórias, tendo o potencial de matar crianças desnutridas ou bebês muito jovens para serem vacinados. A representante alertou que uma vez que a infecção ocorre, não há tratamento específico para o sarampo, por isso, a prevenção é fundamental.

Complicações

“A vacina salva vidas, a vacina é eficaz, a vacina protege. Sarampo não é uma doença que não tenha repercussões na saúde da criança, inclusive mais graves. O sarampo tem complicações e por isso mesmo essas crianças são vulneráveis e em hipótese, em momento nenhum, pode se considerar o sarampo uma doença qualquer.”

A especialista enfatiza que os pais devem manter o calendário de vacinas dos filhos sempre atualizado. Ela lembra ainda que o Estatuto da Criança e do Adolescente diz que é obrigatório que as famílias levem as crianças para vacinar de acordo com o calendário oficial de vacinação no país.

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