Em 3 anos, 15 milhões de famílias voltaram à crise após deixarem uma

Um estudo da consultoria Nielsen aponta que o brasileiro tem vivido crises em looping, ou seja, crises cíclicas. No total, são 15 milhões de famílias que já viveram uma crise nos últimos três anos e que, depois de saírem dela, voltaram a vivenciar desemprego, inadimplência ou dificuldades orçamentárias.

Segundo a Nielsen, a prova de que essas famílias vivem a instabilidade de forma cíclica é que, mesmo aquelas que conseguiram sair da crise e que atualmente não estão com contas atrasadas, também mudam de comportamento. O levantamento estima que 14 milhões de famílias estão imunes a crises e que 12 milhões deixaram essa situação.

Porém, 27 milhões de famílias estão vivenciando uma crise financeira, sendo que 15 milhões foram famílias que voltaram a experimentar crises. Isso explica porque 36% das famílias continuam trocando de marcas, 64% estão com dívidas no cartão de crédito e 24% recorreram ao crédito consignado em 2018, diz o estudo.

“Essa situação de entra em crise, sai da crise é muito difícil. O brasileiro tem que se planejar mais, fazer mais contas para conseguir adaptar seu orçamento”, afirma Ricardo Alvarenga, diretor do painel de lares da Nielsen Brasil. “Como ele está em looping, não retoma aos padrões de consumo anteriores, pois não sabe se sua situação atual vai melhorar ou piorar.”

O estudo, que é voltado para empresas privadas, também mostra que as companhias têm se adaptado para manter esses consumidores ativos. A indústria, por exemplo, manteve as promoções, mas apostou em estratégias para gerar valor no longo prazo. Isso fez com que produtos indulgentes e funcionais crescessem 5,2% e 1,4%, respectivamente. Enquanto que os produtos práticos e básicos caíram 4,3% e 4%, na ordem.

“Pode parecer um paradoxo, mas não é. O consumidor está em crise, mas reluta em diminuir seu padrão de vida. Busca todas as alternativas possíveis para tentar manter seu bem-estar. E como algumas indústrias se adaptam à essa realidade, ele encontra produtos com benefícios adicionais, como os indulgentes e funcionais, com tamanhos, embalagens ou marcas acessíveis”, afirma Alvarenga.

O executivo afirma que a indústria e também o varejo precisam se adaptar a essa realidade de crises constantes e a uma nova forma de consumo do brasileiro. “Não há mais espaço para esses dois gigantes do mercado atuarem apenas de forma reativa, com ações exclusivamente táticas e relacionadas a preço. Isso, além de impactar as margens de curto prazo, não ajudará o brasileiro a entender os benefícios e o posicionamento das marcas com as quais se relaciona”, conclui.