Proteção da vida debaixo d’água gera renda para Municípios

Conservar e usar sustentavelmente os oceanos, os mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável. Com essa finalidade, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 14 chama atenção para a vida debaixo d’água.

Incluído neste ODS, o Projeto Tamar, presente em diversos Municípios brasileiros, surge com a missão de proteger o ciclo de vida das tartarugas em terra e mar, além de promover a sobrevivência e a recuperação das populações das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, mantendo-as em níveis saudáveis e capazes de cumprir suas funções ecológicas.

Criado em 1980, o Projeto Tamar protege cerca de 1.100 quilômetros de praias, em 25 localidades, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso desses animais, no litoral e ilhas oceânicas, em nove Estados brasileiros. É o que explica a fundadora e coordenadora de pesquisa e conservação do Tamar, Neca Marcovaldi. “O que nós conseguimos nesses 37 anos foi fazer com que a proteção e a conservação da vida marinha gerassem trabalho e renda para as comunidades que viviam do uso direto. Como as tartarugas desovam sempre na mesma praia, há um argumento que não tiramos nada dos Municípios. Através da conservação, eles também preservam o patrimônio natural para os netos, tataranetos”, disse.

Atualmente, o projeto é reconhecido internacionalmente como uma das mais bem-sucedidas experiências de conservação marinha, e serve de modelo para outros países, sobretudo porque envolve as comunidades costeiras diretamente no seu trabalho socioambiental. “O projeto é uma das vias mais alternativas de posto de trabalho. Com esse trabalho de conservação, geramos 1800 posições de trabalho. Além disso, ao longo desse tempo, nós protegemos uma geração de tartaruga marinha, que demora 30 anos para ficar adulta, o que corresponde a duas gerações e meia sociais. Ou seja, duas gerações e meia de meninos que nasceram nessa localidade com uma outra perspectiva, que vêm trabalhar com educação ambiental, sensibilização, além de valorarem o trabalho de conservação e terem orgulho do que conseguem fazer”, completa.

Além disso, o Projeto Tamar envolve as localidades onde estão eles inseridos. “O Tamar participa na maioria dos Municípios do Conselho de assistência social, de educação, além de ajudar a formar cidadãos capazes de contribuírem com a gestão de políticas públicas. Com isso, traz benefícios para estes lugares, desde de vocação turística para que o Município possa ser atrativo através de um programa de conservação. Sem esquecer que tudo volta para a comunidade. A gente não traz gente de fora. Fazemos o melhor aproveitamento com os recursos locais”, finaliza.

O Brasil possui uma costa de 7.367 quilômetros de extensão, que abriga 395 Municípios em 17 Estados. São aproximadamente 3 quilômetros de recifes de corais. O país também reúne 12% dos manguezais do mundo.

ODS nos Municípios

O ODS 14 busca promover a sustentabilidade das zonas costeiras e dos oceanos. Em muitas cidades costeiras, são lançados esgotos, resíduos industriais e sólidos diretamente no mar. Além disso, as cidades do interior também têm responsabilidade sobre a contaminação dos oceanos ao poluir seus rios e lagos, já que tudo deságua no mar.

Assim, ainda que o Município não seja litorâneo, a poluição dos seus recursos hídricos terá como resultado final direto ou indireto a poluição dos mares. Para tal, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) chama atenção para a necessidade de conservar os recursos marinhos e utilizá-los de forma sustentável para continuar aproveitando os benefícios que eles nos trazem.

Além do ODS 14, o Projeto Tamar também integra o ODS 17, que trata das parcerias e dos meios de implementação. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis fazem parte da Agenda 2030, firmada entre diversos países do mundo com o objetivo de alcançar a promoção de um desenvolvimento mais sustentável, justo e inclusivo.

A Agenda destaca que a autoridade local desempenha um papel essencial na educação, na mobilização e na resposta ao público em favor de um desenvolvimento sustentável, pois a participação do cidadão munícipe nas decisões que afetam a comunidade tem maior eficácia no nível local do que no plano regional ou na distante esfera nacional.