Os “supervermes” que comem plástico são o segredo para um futuro mais sustentável?

Pesquisas recentes mostram como as bactérias do intestino das larvas de besouros podem garantir sua sobrevivência com uma dieta de plástico.

Não é nenhum segredo que o mundo está inundado de plástico. Dezenas de milhões de toneladas de resíduos plásticos acabam em aterros sanitários todos os anos. Para enfrentar os desafios colocados por esses resíduos, temos de explorar cada caminho que possa levar a um futuro mais sustentável.

Como sugere um novo estudo científico baseado em pesquisas da Universidade de Queensland, na Austrália, o segredo para acabar com a superabundância mundial de resíduos plásticos pode estar nas entranhas da larva do besouro Zophobas morio, também conhecida como “kingworms” ou “supervermes”.

O microbiologista Christian Rinke e sua equipe dividiram 135 larvas de Zophobas morio em três grupos: um alimentado com uma dieta de farelo de trigo, outro alimentado exclusivamente com poliestireno e um terceiro que passou fome. Os supervermes do farelo de trigo ganharam mais peso, evoluindo de larva para besouro em 90% dos casos. Surpreendentemente, o grupo alimentado com a dieta de plástico conseguiu quebrar e extrair energia suficiente do poliestireno para engordar mais do que o grupo de inanição e se transformar em besouros com uma taxa de sucesso de 66%.

Os resultados sugerem que o intestino dos supervermes dispõe de enzimas bacterianas que quebra o poliestireno em moléculas menores e mais digeríveis. Como aponta a revista Scientific American, entender como replicar esse processo em uma escala maior pode um dia permitir a reciclagem de plásticos que, de outra forma, não seriam nada mais do que resíduos ao fim de sua vida útil.

Para isso, é preciso esclarecer que não é sobre largar um punhado de larvas de besouros em um aterro sanitário. Mais pesquisas precisam ser desenvolvidas para determinar exatamente como esses microbiomas intestinais quebram as ligações entre os átomos de carbono dentro do plástico, o que permitiria que o processo seja replicado por química intencional. Como a pesquisa da equipe de Rinke analisou as bactérias intestinais de supervermes em maior profundidade do que os estudos anteriores, a possibilidade de fazer com que esse plástico seja biodegradável está mais próxima.

Essa nova abordagem para transformar resíduos de poliestireno em algo mais útil não é o único método proposto nos últimos tempos. Um estudo de 2021 publicado por cientistas do Laboratório Ames do Departamento de Energia dos Estados Unidos afirma que o isopor comercial pode ser desconstruído à temperatura ambiente usando “uma técnica que coloca os materiais em um recipiente de moagem com rolamento de esferas de metal, que é então agitada até que a reação química desejada ocorra”, um método que os cientistas caracterizam como “um processo ecológico e de baixo consumo de energia”.

Pode demorar um pouco para que qualquer um desses processos resolva nosso problema com o plástico, mas são sinais positivos de que a ciência pode ajudar a guiar a indústria de itens domésticos – e o mundo do consumo como um todo – para um futuro mais sustentável. É algo a ser lembrado da próxima vez que você ficar com nojo de uma larva ou besouro.