Nova agenda do Pacto Global da ONU pede salário digno e ambição climática

Braço das Nações Unidas que reúne o setor empresarial lança a Ambição 2030, iniciativa que busca acelerar as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

A Rede Brasil do Pacto Global da ONU, braço das Nações Unidas que reúne o setor corporativo, lançou nesta segunda-feira, 25, o programa Ambição 2030. A iniciativa, composta por sete movimentos, busca acelerar as metas propostas pela Agenda 2030 da ONU, que reúne os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Um evento no recém-inaugurado hotel Rosewood, em São Paulo, oficializou o lançamento, acompanhado por cerca 250 CEOs e lideranças empresariais.

“Não vamos construir um futuro em Marte”, disse Carlo Pereira, CEO da Rede Brasil do Pacto Global. Pereira destacou a importância do setor privado na transição para uma nova economia, baseada na geração de valor para todos e na descarbonização. “Somos 60% do PIB, 80% do fluxo de capitais e 90% dos empregos. Escolhemos fazer essa transição porque é o correto”, disse o executivo.

Sanda Ojiambo, CEO global do Pacto, ressaltou que o “business as usual” não é uma opção. Ou o setor empresarial se transforma, ou será engolido pelos efeitos das mudanças climáticas e das convulsões sociais decorrentes desse processo.

Movimentos pedem salário digno, diversidade e ambição climática

A Ambição 2030 está baseada em sete grandes movimentos: Mente em Foco, Elas Lideram 2030, +Água, Salário Digno, Raça é Prioridade, Ambição Net Zero e Transparência 100% (veja o detalhamento ao final do texto). Eles tratam de questões relacionadas à saúde, direitos humanos, clima, acesso à água e anticorrupção. Até a data do lançamento, 150 empresas haviam aderido aos compromissos públicos propostos pelo Pacto.

Cada movimento representa um chamado às empresas para reconhecerem a urgência de se tomar medidas concretas. “Perceber que cada um tem seu papel e sua responsabilidade nessa transformação é fundamental. A mudança das estratégias empresariais é crucial e nós, como líderes empresariais, somos parte do problema, mas, juntos, somos também a solução”, disse Pereira.

Brasil pode liderar essa agenda

Em vídeo apresentado no evento, o economista Jeffrey Sachs, professor da Universidade de Columbia, em Nova York, disse que o Brasil tem duas missões no momento: salvar a Amazônia e transformar a matriz energética. “O Brasil pode liderar essa agenda, então, por favor, encontrem o caminho para a sustentabilidade e ajudem a paz”, disse Sachs, ressaltando que a guerra na Ucrânia precisa acabar por meio da diplomacia, uma das tradições do corpo de relações exteriores brasileiro.

Até 2025, os ativos ESG chegarão a 53 trilhões de dólares no mundo, destacou John Denton, secretário geral da Câmara Internacional do Comércio (ICC). “Os negócios podem ser uma força para o bem e tornar o mundo mais verde, seguro e próspero”, disse. Para Rodolfo Sirol, presidente do conselho da Rede Brasil do Pacto, há uma revolução na maneira de fazer negócios em curso. “A tomada de decisões, que antes era linear, hoje é multifacetada. E o mercado financeiro já dita as regras”, afirmou Sirol.

ONU destaca o papel da juventude para o desenvolvimento econômico

Durante o evento, o Pacto também apresentou o seu Conselho Jovem, formado por Amanda Costa, Beta Boechat, Deives Picaz, Ivan Baron, Monique Evelle, Paloma Costa, Raul Santiago e Txai Suruí. As lideranças da juventude leram uma carta aos CEOs presentes, e pediram ação.

“Nós somos a geração que mais será impactada pelas decisões e escolhas que vocês fazem hoje. A inclusão não pode ser apenas um discurso bonito, ela precisa ser um direito de todes. Queremos construir um futuro digno, inclusivo e verdadeiramente representativo”, diz um trecho da carta.

“Essa iniciativa é uma oportunidade pra grandes empresas que detém o capital refletirem como gerar impacto e modificar as estruturas de uma maneira mais inclusiva”, afirmou Raul Santiago, em conversa com a EXAME. Para Monique Evelle, o conselho jovem é o que vai influenciar que faz parte do Pacto. “Espero que, mais do que sermos ouvidos, a gente participe da criação dessa agenda. Porque é preciso experiências se bagagens diversas para acelerar os ODS”, disse Evelle.

Os sete movimentos da Ambição 2030

Mente em Foco – ODS 3

Promove Saúde e Bem-estar convida empresas e organizações brasileiras a trazerem para o centro das decisões a pauta da saúde mental, estimular a discussão sobre o tema, estabelecer ações concretas e de suporte aos seus colaboradores e criar um ambiente de trabalho saudável

Elas Lideram 2030 – ODS 5

Busca ajudar as empresas a assumirem e atingirem metas concretas pela equidade de gênero, tendo ao menos 50% de mulheres em cargos de alta liderança. O objetivo final é ter mais de 1.500 empresas comprometidas, promover 11 mil mulheres para esses cargos até 2030 e ter pelo menos 150 lideranças de alto nível engajadas com esta ambição

+Água – ODS 6

Iniciativa para aceleração da universalização do saneamento e segurança hídrica do Brasil e tem a ambição de impactar a vida de mais de 100 milhões de pessoas

Salário Digno – ODS 8

Tem a ambição de garantir 100% de salário digno para funcionários e funcionárias, incluindo operações, contratados(as), e/ou terceirizados(as) e engajar toda a cadeia de suprimentos para desenvolver metas de salário digno

Raça é Prioridade – ODS 10

Trabalhará para promover mais de 15 mil pessoas negras (negras, indígenas, quilombolas, ou pertencentes a outro grupo étnico minoritário) em cargos de liderança até 2030, mais de 20 mil pessoas negras capacitadas, com mais de 1.500 empresas comprometidas com esse tema fundamental para o Brasil

Ambição Net Zero – ODS 13

Pretende colaborar para a Redução de 2 Giga toneladas de CO2e em emissões acumuladas

Transparência 100% – ODS 16

Tem como objetivo desenvolver instituições eficazes, responsáveis e transparentes em todos os níveis, encorajando e capacitando as empresas para ir além das obrigações legais, fortalecendo mecanismos de transparência e integridade